Crônica: Carta de despedida ao meu pequeno pet

Onze anos de amor. Onze anos de lindos ensinamentos. Onze anos de uma convivência cristalina, confortante, pura e prazerosa.

Parece que foi ontem que recebi o meu presente. Uma bolinha de pelo bege dentro de uma caixinha de sapato, feliz, que fazia arte pela casa toda. Eu era uma menina e transbordava de tanta felicidade: era o bichinho mais lindo que eu já tinha visto na vida.

Ele foi crescendo como uma criatura feliz e fofa. Lembro de ter se apegado à minha mãe, adotou-a para si. Virou literalmente seu filho – e meu irmão. Por onde quer que minha mãe andasse, lá estava ele. Chorava quando ela saía de perto. Vibrava quando sentia sua presença se aproximando e sentava em seu pé assim que ela parasse em algum lugar. Já eu virei a irmã pentelha: te irritava só pra ouvir você rosnar na minha orelha, enquanto que você era o pentelhinho que me acordava pela manhã. Corrompia meu sono me enchendo de lambidas, que eu adorava. Era inacreditável e todo mundo ria quando via: você sorria! Assim, de abrir os dentões mesmo. Que coisa fofa!

Gostava de dramatizar pra conseguir o que queria: fazia cena por comida, carinho e atenção. Era forte pra suportar muitas dores e estava sempre alegre, pronto para brincar a qualquer momento. Gostava tanto de ouvir sua patinha no chão do apartamento enquanto andava: era uma coisa musical. E quando via um bichinho, então? Na rua, tinha a necessidade absurda de conhecer e brincar. Quando via algum bichinho na TV, corria para perto do cômoda e pulava, pulava… Como se pudesse alcançar o bichinho fofo que via naquela tela.

Os anos foram passando. Você cravou teu amor em mim, algo impossível de tirar. Todo mundo que via de longe falava do seu bom comportamento: “Meu Deus, esse cachorro é um príncipe!”. Bom, até chegar lá foram boas palmadas do papai, broncas e tudo o mais. Ás vezes dava um deslize, mas não importa: a gente sempre anda aprontando, não é mesmo? As pessoas criaram amor e respeito por você também. Minha irmã e meu pai adoravam gargalhar com a sua concentração diante de um filminho de cachorrinhos.

Que saudades de ti, meu principinho! ♥ | Crédito: Camila Honorato
“Estrela miúda que alumeia o mar”. Que saudades de ti, meu principinho! ♥ | Crédito: Camila Honorato

E os apelidos que eu criei? Deus do céu: do nome original Brad Pitt, dado carinhosamente pela minha avó por causa do pelo claro, você virou Pitt, Chicão, Ninho, Menino, Sinho… São incontáveis! Aliás, quanta música eu inventei pra você, não é? Vivia cantando umas coisas improvisadas, e você me olhava com aquela cara de: “Que diabos essa doida tá fazendo”. Mas era esse o nosso jeitinho de amar. Até quando eu te beijava a noite e você rosnava pra mim – e eu te chamava de grosso. Bom, amor de irmão que não se mede e não se explica.

As pessoas costumavam dizer que você tinha sete vidas. Acho que tinha mais, viu. Primeiro foi atropelado na nossa antiga casa de campo, mas superou a dor na patinha. O papai uma vez brincou de dar soquinhos na cama: o barulhinho te enlouquecia e você corria pela casa, até ele acertar sua cabecinha sem querer e você desmaiar. Mas você acordou e continuou firme. Isso sem contar as diversas infecções intestinais, internações, dores no corpinho miúdo. A gente sempre cuidava de você com muito amor, como se fosse uma parte de nós. Bem, na verdade você é, sempre foi e sempre será uma parte de nós. A melhor.

E lembra dos nossos banhos? Quando eu esfregava teu pelinho e escovava seus dentes – e você queria me morder? Bom, eu contornava a situação com musiquinhas. Tipo: “Tchau, preguiça, tchau sujeira. Adeus o cheirinho de suooooor”. E lá ia a sujeirinha pelo ralo. Te secava e passava um perfuminho tão gostoso. Até inventei um bordão pra isso: “Cheiro gostoso de cabeça”.

O tempo, no entanto, não perdoa ninguém. Vieram alguns problemas cardíacos e de pele, que você superou com louvor. Sua vontade de viver era maior do que a de muita gente por aí. Tomava remedinho, andava com a gente sempre, gostava de correr, brincar com todo mundo. Não podia ver um osso, comidinha ou um objeto: catava e não soltava mais. Brincava até dizer chega. Até brincar com a comida você fazia, lembra? Jogava a ração no chão e fingia que ia comê-la antes de abocanhá-la de vez. Rolava o pão de queijo no chão (que aliás, era sua comida preferida), comia muuuuita laranja e jogava o resto do bagaço na gente. Era uma alegria do tamanho do universo.

Junto com a idade avançada, veio um problema sério. Um acidente vascular cerebral que quase te levou de mim. E não é que você superou? Ficou um tempo sem andar mas levantou outra vez, voltou a brincar com a gente, de uma forma mais discreta. Meses se passaram e 2012 chegou. Você sofreu um probleminha na coluna que foi fatal: não conseguia andar mais, não comia direito… Me dói só de lembrar dos seus olhinhos implorando pelo paraíso. Era sua hora, a hora de se aninhar no colinho do meu avô e de tantos outros entes queridos que partiram. Papai do céu tinha um lugar incrível guardado pra você, com muitos cachorrinhos ao seu redor.

Essa dor não fazia parte de você. O sofrimento não lhe pertencia. Eu sei que você virou um dos meu anjinhos da guarda agora. Sei que ama a gente pra sempre e vai estar sempre cuidando. Sua presença pode ser sentida no meu coração.

A dor de perder alguém na Terra é sempre forte. O tempo acaba curando e trazendo boas lembranças. Você estará sempre muito vivo em mim.

Um dia a gente vai se encontrar, irmãozinho. A gente vai fazer muita farra de novo. Vamos pular e rolar na graminha como você fazia, vamos beber água de piscina, vamos correr por tudo que é lugar. E eu vou cantar daquele jeito bobo pra você, com direito às mil vozes que eu fazia pra você. Ai, meu Deus, que saudade que dá…

Minha mãe, que você ama muito e que te ama com a mesma intensidade, ficou com você até o último momento. Sabe, ela precisa de conforto agora. Vou abraçar muito ela e falar pra ela que você está bem.

Vou ficar com muita saudade. Mas muita mesmo. Descanse em paz, meu amor. Sei que está num lugar muito bom agora e que Deus está te protegendo mais ainda.

Obrigada por todos os momentos maravilhosos. Pela lição de amor incondicional que você me deu. Pela festa que você fazia sempre a gente chegava em casa.

Não consigo nem descrever o tamanho do amor que eu sinto. É muito grande, sabe? Melhor cachorrinho do mundo!

Até um dia, meu irmão de sangue. Minha vida, minha linda bolinha felpuda e feliz.

 

8 Comments Add yours

  1. É com lágrimas nos olhos que eu comento aqui, espero que seu coração fique em paz, e que ele esteja te zelado de onde ele estiver, fique bem.

    1. palavrasemvertigem says:

      Oun, Rii. Valeu! Essa força significa muito pra mim. Beijos.

  2. Meu bem, que você e sua família estejam em paz, que vc se confortem da melhor forma possível, já passei por isso e sei que é bem doloroso… Fica bem meu amor.
    Muito amor, amor, amor e mais amor!

    1. palavrasemvertigem says:

      Oun, amiga, que lindo! Obrigada pela força. É bem doloroso mesmo, mas eu sei que ele está num lugar muito melhor do que aqui. ♥

  3. Cíntia says:

    Que bela homenagem você criou para o seu amigo. Belo texto, belo sentimento 🙂

    Com certeza esta fofura está em um ótimo lugar!

    Espero que você fique bem logo 🙂

    1. palavrasemvertigem says:

      Que bom que você gostou! A gente vai melhorando no decorrer dos dias e as boas lembranças ficam. Valeu pela força! Beijos.

  4. Ana Petala says:

    Linda a homenagem!
    Com certeza agora está em um local melhor que a gnt!
    Espero que você fique bem!
    Estou passando aqui pela primeira vez, criei um blog de moda e venda de acessórios.
    Espero que goste.
    Estou sorteando um colar, é só curtir minha página no facebook
    que você irá concorrer, ele é lindo! Não deixe de passar lá!
    ( http://www.facebook.com/anapetala

    1. palavrasemvertigem says:

      Que bom que gostou da homenagem! Valeu pela força.
      Gostei bastante do seu blog e já dei um like pra concorrer ao colar. Boa sorte nesse seu projeto mara! Beijos.

Leave a comment