Filmes nacionais ainda são fortemente amparados por questões sociais, e frequentemente recorrem a protagonistas homens. É comum ver machos carrancudos encabeçando histórias de violência, como visto em Cidade De Deus, Carandiru e Tropa de Elite.
No entanto, alguns títulos que menos repercutiram nas bilheterias mostram um lado verdadeiramente humano do gênero, e bebem da fonte de títulos estrangeiros como Os Intocáveis ao mostrar seus aspectos positivos, como a lealdade masculina. Algo que passa muito longe do clichê da força física e da imaturidade psicológica que estamos tão acostumados a ver nas telonas. Isso esteve presente na belíssima história entre pai e filho jovens de A Busca e até em O Filme da Minha Vida. Em ambos, as questões atreladas aos conflitos vivenciados por homens (perda da virgindade com prostitutas, vivenciar traições, a questão da paternidade e as rusgas com a figura do pai) são tratadas de forma madura, mostrando personagens que verdadeiramente ponderam sobre suas escolhas. Tais questões estão igualmente presentes em Antes Que Eu Me Esqueça.

A história central trata de um tema extremamente complicado na nossa sociedade, com uma doença que leva famílias ao colapso: o Alzheimer. O protagonista, que atende pelo nome de Polidoro e é vivido com maestria pelo sempre extraordinário José de Abreu, começa a notar as primeiras manifestações da doença e, tentando dar um novo rumo para sua vida, abdica da vida confortável de juiz aposentado para investir em uma boate de strit-tease. Ainda que, dentro desse contexto, haja a abordagem de mulheres trabalhando em favor do entretenimento masculino, tudo é feito de uma forma tão delicada e mostrando o desenvolvimento de uma amizade tão bacana entre os personagens que, surpreendentemente, a fórmula que tinha tudo pra dar errado acaba se mostrando como um dos grandes acertos do roteiro. E um dos méritos aqui é justamente o da personagem de Guta Stresser, que fala sobre sexo sem rodeios e traz uma comicidade deliciosamente caricata na história.

Além disso, como citei anteriormente no texto, a relação de Polidoro com o filho Paulo (Danton Mello, em ótima performance) mostra um bom desenvolvimento de ambos os homens na tentativa de resolverem seus conflitos interpessoais – e o avanço da doença, abordado de forma bem-humorada, colabora com isso. O filme é, em suma, algo que foge do aspecto social e entra em questões mais introspectivas, voltada para a resolução de conflitos nas relações, sobretudo as familiares.

Outra coisa que vale o ingresso são as amizades masculinas mostradas entre Polidoro, Gregório (Dedé Santana) e Evandro (Silvio Matos), que é algo hilário, porém, de grande cumplicidade. Um filme que acerta ao mostrar que o papel masculino pode – e deve – ser pautado na ponderação, na maturidade e em uma força que mais diz respeito a lutar para preservar a família e os amigos do que ao mostrar o impacto do próprio punho.
VAI LÁ
Antes Que Eu Me Esqueça
Direção: Tiago Arakilian
Elenco: José de Abreu, Danton Mello, Guta Stresser, Mariana Lima, Letícia Isnard, Aisha Jambo, Augusto Madeira, Eucir de Souza, Dedé Santana, Saulo Rodrigues, Kathia Calil, Silvio Matos, Miguel Nader e mais.
Produção: Silvia Fraiha
Distribuição: Imagem Filmes
Classificação Final: ♥♥♥ (Bom).