Essas semanas têm sido uma verdadeira loucura pra mim. Além de escrever para freelas, conciliar essas tarefas com um trampo fixo e estudar para a faculdade (só essa semana eu tive um trabalho para entregar e tenho duas provas que estão exigindo um estudo daqueles), passei por algumas experiências pessoais não muito agradáveis. A primeira delas é tragicômica: um atropelamento que mais me assustou do que machucou, e só serviu pra me dar torcicolo, braço imobilizado e um sentimento de que preciso de um bom banho de ervas pra afastar essa maré de azar. A segunda é lidar com dramas pessoais dentro de casa, sendo um deles a saúde da pessoa que eu mais amo. A terceira veio hoje: o falecimento de um tio querido.
Eu poderia me deixar levar por esse sentimento aterrador, mas prefiro converter isso em palavras e distrair a minha cabeça com o meu trabalho na escrita. Entre uma pausa e outra, concluindo um trabalho e relaxando um pouco dos estudos, resolvi que era o momento de voltar a alimentar o trabalho que eu mais amo na minha vida, que é simplesmente escrever, inclusive para esse blog. Há duas semanas, estive presente no evento Grand Tasting Grand Cru 2017, que acontece anualmente na lindíssima Casa da Fazenda do Morumbi e contou com participação de diversas vinícolas apresentando seus rótulos de qualidade. Foi uma noite agradável permeada por vinhos de ponta, jantar simples e gostoso, pessoas bonitas e uma decoração rústica. Aliás, se me permitem uma dica, paulistanos: se estiverem com um dinheirinho no bolso, abdiquem do jantar em restaurantes mirabolantes pra aproveitar de um bom custo-benefício que vale a noite e relaxa. E como relaxa!

Começo esse texto já com uma dica para os principiantes em um evento de degustações. Aliás, nem com curso de vinhos, nem lendo um montão sobre o assunto eu consigo me livrar desse estigma de provar todos os vinhos bem classificados que vejo pela frente. Apenas, não façam isso! Ou vocês serão surpreendidos com uma tontura repentina e uma sensação momentânea de não querer mais ver vinho na frente de vocês, o que é uma bela sacanagem com a bebida dos deuses. Procurem conversar com os profissionais à frente do serviço de degustação de cada vinícola, pergunte sobre os rótulos apresentados e sobre o gosto de cada um deles pra saber o que vale a pena aproveitar ou não. Isso é uma bela forma de fazer novos contatos pessoais e profissionais, aliás. Afinal de contas, não restam dúvidas de que eventos como esse costumam receber pessoas incríveis e com histórias impressionantes para compartilhar. E claro: dê uma pausa pro pãozinho. Parece bobagem, mas lugares como esse são realmente uma tentação. Eu não estou brincando quando digo que você vai querer sair bebendo tudo. Mesmo seguindo tudo o que eu disse anteriormente, você corre sérios riscos de ainda sair tortinho do lugar…

Passados os relatos cruciais desse dia, vamos às dicas em relação aos vinhos que provei, que não foram poucos. Como de praxe, o evento organizou os vinhos em estações temáticas, dos espumantes, passando por rosés e brancos leves até os tintos mais elegantes e, por fim, os vinhos de sobremesa. Comecei com um espumante Victoria Geisse Vintage Reserva 24 Meses (R$ 94), da brasileira Família Geisse, de aroma bem frutado e fresco contrastando com um sabor mais encorpado, atípico para um espumante. De lá, saltei para os champagnes e espumantes rosés e provei do Villa Crespia Brolese Extra Brut Franciacorta (R$ 249), um italiano com cortes de Chardonnay e Pinot Noir, de aroma leve e fresco e de espuma abundante, com um final frutado delicioso. Na outra extremidade, o elegantíssimo Billecart-Salmon Brut Rosé (R$ 599) ganhou meu coração de todas as formas possíveis, com um equilíbrio perfeito. O corte de Chardonnay, Pinot Meunier e Pinot Noir me fez pensar que, quando se trata de champagnes, os franceses continuam dominando o assunto como ninguém. Cinco estrelas pra esse garoto! ♥

Saindo de lá, comecei minha jornada pelos vinhos tranquilos e claros, iniciando com um San Salvador Gotín del Risc Godello DO Bierzo (R$ 219). Esse vinho, aliás, é ideal para quem curte bastante vinhos brancos de corpo médio e estruturados, já que o sabor é potente e o álcool é perceptivelmente elevado (13,5%). O aroma vegetal, que deixa aquele toque de pimentões, finalizam o aspecto de extrema personalidade desse vinho, que conseguiu 92 pontos na avaliação do Guía Peñín 2016. De lá, migrei para a França de novo e tomei o delicado Château la Négly L’Écume Rosé (R$ 89), que é a perfeita definição de um rosé de qualidade, com aroma leve e fresco e que lembra pêssego. Em suma: extremamente leve, elegante e equilibrado.
Já que é pra falar de elegância, vamos partir para os tintos e começar com um do Velho Mundo. O Marquis de Bordeaux (R$ 99) foi desenvolvido pelo sócios Jean Moueix, proprietário de nada menos do que o estreladíssimo Château Petrus, e Alexandre Sirech com o propósito de trazer um rótulo com a classe pela qual a região de Bordeaux é conhecida com preços mais acessíveis do que o habitual. O resultado é um vinho de equilíbrio impressionante e aroma extremamente perfumado, com persistência marcante de frutas vermelhas. Também do Velho Mundo o italiano Casanova di Neri Rosso Di Montalcino (R$ 239) também estacou-se pelo seu equilíbrio e elegância. O destaque aqui, por sua vez, ficou por conta do aroma marcante e único.

Para encerrar, vamos falar um pouco dos vinhos do Novo Mundo, já que são eles os que nós, brasileiros, mais consumimos não só pelo paladar e pela aproximação cultural, mas também pelo ótimo custo-benefício. Da vinícola argentina Escorihuela Gascón, o selecionado foi o Don Miguel Escorihuela Gascón Malbec (R$ 464), com um aroma delicioso de frutas negras em abundância, álcool acentuado e sabor muitíssimo encorpado. A Viña Cobos trouxe como carro-chefe o rótulo Cobos Bramare Los Arbolitos Chardonnay (R$ 379), que foi armazenado em barricas de carvalho e é um varietal bem trabalhado, cuja leveza é a palavra-chave para defini-lo.
Entre os chilenos, o Despechado Pinot Noir (R$ 159), da vinícola Morandé Adventure, impressiona com uma cor linda, de vermelho vivo e aberto, tipo sangue. Em contrapartida, seu sabor é sutil. Da Errazuriz, o destaque foi para o Don Maximiano Founder’s Reserve, um delicioso corte de Cabernet Sauvignon, Carmenère, Malbec e Petit Verdot que resultou em um vinho tipicamente cinco estrelas de excelente equilíbrio, extremamente delicioso. A já bem conhecida Leyda destacou-se com o Lot 21 Pinot Noir (R$ 299) que, como essa uva maravilhosa e que está entre as minhas favoritas sugere, tem aroma bem frutado e até doce, que lembra groselha, com equilíbrio surpreendente. É um típico vinho gastronômico, daqueles que nunca falham em acompanhar bons pratos. Por fim, a Grande Vinos de San Pedro fechou com o AltaÏr 2010. Apesar de não ser um vinho muito aromático, ele tem certa elegância e bom equilíbrio de álcool e taninos. No entanto, a acidez mais elevadas e a característica pouco fragrante dizem que esse vinho precisa de mais tempo de armazenamento em garrafa antes de ser finalmente degustado.

Se posso destacar um ótimo aspecto nesse evento ele é a presença feminina. Tenho notado que, na maioria dos eventos que fui nesse segmento, a presença masculina ainda é muito maior. Apesar do universo fascinante que os vinhos proporcionam, o patriarcado grita alto nessa área e clama por ocupação. Fiquei muito orgulhosa de ver a presença de consumidoras bem informadas e de profissionais incríveis, sobretudo das garotas da América Latina, que dobraram bem a descrença por parte de alguns poucos convidados malas que tentaram mostrar que sabiam mais do que elas (filhos, me poupem né) e que deram um show de inconveniência com cantadas fora de hora. Vamos lembrar que a gente trabalha bem, luta pelo nosso espaço e que não precisa de encheção de saco, né.
No mais, a festinha foi bacana, teve massa bem preparada pra acompanhar e um atendimento incrível por parte dos organizadores. Ponto positivo!
Grand Tasting Grand Cru 2017
Classificação Final: ♥♥♥♥ (Muito Bom).
Mais fotos em: Flickr, por Camila Honorato.
* Selecione os vinhos desse post e adquira o que mais te encantou no site da Grand Cru acessando esse link.
Olá!
Seu blog foi citado no post: https://lithiumpensamentossoltos.wordpress.com/2017/06/21/mystery-blogger-award/