Há 120 anos, o Brasil via nascer um dos seus futuros grandes expoentes do que, mais tarde, denominaríamos como pintura modernista. No berço do carioquismo, dos cenários típicos e boêmios do Rio de Janeiro, um artista ganhava corpo e forma em explosões de cores, de retratos sem censura da nudez feminina e de ilustrações provocativas sobre o contexto político do país, sempre polêmico com suas corrupções e desigualdades. Há 120 anos, nascia Di Cavalcanti.

Em celebração a esse ano comemorativo para as artes plásticas brasileiras, a Pinacoteca do Estado de São Paulo, um dos mais importantes e bem frequentados museus da cidade e do país, preparou uma exposição que reúne grandes obras de uma das figuras mais significativas da arte tupiniquim. Intitulada como No Subúrbio da Modernidade, a exposição faz jus ao nome e mostra como as pinturas da figura representada em seus espaços retratava cenas do cotidiano tido como subúrbio. Estão lá os retratos dos colonos recém-chegados ao país, a nudez vívida das prostitutas dos bordéis, a população negra inserida no contexto do samba, os grupos de amigos bebendo em bares noturnos e tantos outros cenários que figuram o que ficou conhecido como a concepção do Brasil popular.

O acervo da mostra reuniu obras públicas e particulares presentes não só no Brasil, mas também em países como o Uruguai e a Argentina – mostrando o valor inestimável da arte na América Latina. Com curadoria de José Augusto Ribeiro, a exposição procura abrir uma reflexão quanto ao sentimento de atraso do Brasil frente à arte europeia no início do século 20. Assim como Anita Malfatti, muitas das pinturas de Di bebem da fonte do expressionismo com suas pinceladas de cores quentes. Em contrapartida, muitos dos cenários melancólicos da noite carioca sofreram forte influência do cubismo de Pablo Picasso e criam truques idílicos de luz e sombra, buscando o retrato da decadência de um povo e da melancolia que o mundo pode reservar.

Além de suas grandes pinturas, marcadas por molduras de respeito, a exposição reserva também trabalhos mais discretos e pouco disseminados da carreira do artista, dentre os quais destacaram-se projetos de ilustrações para capas de revistas e discos e desenhos com fortes críticas sociais – algo para ser contemplado com calma, nos mínimos detalhes.

VAI LÁ
Exposição No Subúrbio da Modernidade – Di Cavalcanti 120 anos
Onde: Pinacoteca do Estado de São Paulo (Praça da Luz, 02)
Quando: De quarta a segunda-feira, das 10h às 17h30, com permanência até às 18h. Vai até o dia 22 de janeiro de 2018.
Ingressos: R$ 6 inteira; R$ 3 meia. Entrada gratuita aos sábados.
Avaliação Final: ♥♥♥♥♥ (Excelente).