Tenho um pouco de receio quando o assunto é colocar artistas em um pedestal. Acho que isso diminui muito a humanidade por trás daquela pessoa tão cheia de nuances, defeitos e escolhas que muitas vezes não são exatamente o que a gente gostaria que eles fizessem. James Dean é um desses.

Falando nele: James Dean foi uma das figuras mais icônicas de Hollywood, com sua beleza impressionante e seu jeito rebelde de ser. Jeito, este, que impulsionou comportamentos efusivos e uma atitude que lhe custou a vida: em 30 de setembro de 1955, o ator de 24 anos, que até então só havia sido visto nos cinemas no filme Vidas Amargas, sofreu um grave acidente enquanto dirigia uma Porsche em alta velocidade. Sua vida precoce lhe rendeu uma boa memória: o astro recebeu dois Oscars póstumos por sua atuação em Juventude Transviada e Assim Caminha a Humanidade, onde contracena com a maravilhosa Elizabeth Taylor, e virou símbolo de toda uma geração de “rebeldes sem causa”.
Dirigido por Anton Corbijn, o filme Life – Um Retrato de James Dean procura ir além do relato de sua história para abordar um outro viés de sua vida e carreira: a sua relação com o fotógrafo Dennis Stock e o processo de produção de suas fotos para a revista americana Life, que tornaram-se icônicas e trouxeram a intimidade de um homem de alma sofrida.

A ideia do filme é boa e sua execução possui bons elementos. A direção e a fotografia são satisfatórias, resultando em uma montagem crua, com poucos recursos e, portanto, muito eficiente. O figurino e a maquiagem dos personagens convencem: em alguns momentos, o ator Dane DeHaan, que vive o protagonista, apresenta uma semelhança assustadora com o astro, sobretudo quando visto de perfil. O problema do filme consiste, justamente, na execução do roteiro e na atuação catastrófica dos atores.
O resultado final do longa metragem é de uma melancolia tão exagerada que beira o insuportável. Em muitos momentos, a falta de consistência nos diálogos transforma a experiência do espectador em puro tédio. Para Dane, faltou intensidade como ator e até o viés expressivo que caracterizava uma pessoa em constantes crises existenciais e relacionamentos conturbados, como o que viveu no início da carreira com a atriz italiana Pier Angeli, e que nem mesmo conseguia ver sentido nas próprias atitudes. Sua fala é extremamente lenta, arrastada, mostrando que a ideia de executar a dualidade de uma pessoa acaba por ser cansativa, além de passar a ideia de que Dean era puramente um idiota. Robert Pattinson, por sua vez, tem uma presença extremamente carente até para interpretar os conflitos familiares do fotógrafo. A escolha do elenco é, portanto, um dos pontos mais fracos do filme.

Outra parte técnica que deixou a desejar foi a trilha sonora, assinada por Owen Pallet. Em um filme de movimentos lentos, fotografia obscura e que aposta fortemente no cinza, a presença de sons graves e espaçados aumenta ainda mais a lentidão pouco favorável do filme. Nem mesmo o jazz foi capaz de trazer mais vivacidade às cenas.
A ideia era boa. Pois bem: era! Sua execução, no entanto, foi decepcionante! Um gosto amargo na boca dos fãs de James Dean e de sua persona tão cheia de nuances e, mais do que tudo, humana.
Veja mais fotos e assista ao trailer do filme:











VAI LÁ
Life – Um Retrato de James Dean
Gênero: Drama
Direção: Anton Corbijn
Roteiro: Luke Davies
Elenco: Dane DeHaan, Robert Pattinson, Ben Kingsley, Joel Edgerton, Alessandra Mastronardi, Kristen Hager, Michael Terriault, Kelly McCreary.
Classificação Final: ♥ (Fraquinho).