Por Larissa Honorato / Fotos: Larissa Honorato e Lucas Souza.
A quarta edição do Lollapalooza Brasil, que aconteceu no último final de semana (28 e 29 de março) no grandioso Autódromo de Interlagos, trouxe uma visão de público no mínimo contraditória: se para alguns havia pouca gente, para outros (inclusive eu) houve a certeza de que os gramados do festival estiveram muito mais ocupados do que nas edições anteriores – o oposto do que a mídia espalhou por aí.
Como todo bom evento termina com um grande saldo de prós e contras, eis abaixo as minhas impressões quanto ao Lolla deste ano.

Estrutura
As melhorias visíveis da atual edição ficaram por conta dos patrocinadores – o que resultou em mais investimentos. As áreas de lazer ficaram mais aconchegantes, com balanços entre os palcos Skol e Ônix, tendas com samambaias (plantinhas que fizeram uma senhora diferença no primeiro dia do evento), caixotes de feira customizados com almofadas, montanha-russa (ou quase isso), espaço Skol para cerveja e música, espaços para selfies (que pareciam nunca ter fim), food trucks e, claro, o polêmico Chef Stage.
A moeda criada nesta edição, intitulada mango, foi algo bem desvantajoso: as filas para comprá-la eram enormes e os sistemas de cartões raramente funcionavam bem – o que causou confusão entre os consumidores, que quase sempre se esqueciam da conversão (1 mango era equivalente a R$ 2,50). Os preços, por outro lado, foram um capítulo à parte: era tudo MUITO caro. Desde os ingressos (o valor do Lollapass estava cerca de R$ 60 mais alto do que no ano passado) até os produtos vendidos na arena, que incluíam cerveja a R$ 8 e água de 300ml a R$ 5.
As opções de comida oferecidas pelos food trucks e pelos chefs giravam em torno de R$20 ou R$25. Levando em consideração que muita gente já ia alimentada para o festival, ou levava na mochila alguns alimentos industrializados, os valores exorbitantes foram um verdadeiro tiro no pé. Dessa forma, alguns (pouquíssimos) preços foram reduzidos no domingo.

A organização na entrada e saída do festival sofreu algumas complicações. Em suma: havia poucas pessoas para orientar e informar. Os mapas, distribuídos em larga escala nas edições passadas, fizeram uma falta danada nesta edição. Em compensação, o caminho foi encurtado entre os palcos, o que poupa bastante energia. Por outro lado, é preciso que a produção esteja mais atenta ao som. Um exemplo: no domingo, depois que saí do show do The Kooks no palco Ônix, consegui ouvir claramente os vocais da Pitty. Isso tudo com os palcos sendo completamente opostos.
O pior saldo, no entanto, foi externo. Minha gente, o que foi a CPTM? Impressionante como os caras insistem em deixar as plataformas e trens vazios com mais de 50 mil pessoas tentando entrar na estação. Se no ano passado não consegui chegar a tempo de pegar o metrô, dessa vez passei raspando: consegui embarcar no trem exatamente uma hora depois de sair dos portões do festival – o que em si já é um parto! Pegando o trem depois da meia noite, acabei apelando e chorando por carona. Porque né… Não dá!
Mas como o festival é sobre música, aqui vamos nós! Eis abaixo o saldo final das apresentações.
Os shows do Lolla 2015

No sábado, consegui assistir às apresentações de Fitz and the Tantrums, ALT-J, Robert Plant e Jack White. Sobre o primeiro, consigo dizer que foi, no mínimo, surpreendente. A potência da vocalista Noelle Scaggs, a interação dos membros da banda entre si e com a plateia, a energia de todos em cima do palco… Foi incrível! Destaque para o cover de Sweet Dreams (Are Made Of This), do Eurythmics – que conseguiu levantar até o público mais maduro, presente pela apresentação do ex-líder do Led Zeppelin.

Sobre o ALT-J: falta aquele QUÊ a mais para conseguir prender os olhos da plateia. Os músicos ainda pouco se esforçam para conseguir um contato mais próximo com o público. As músicas com toques eletrônicos e elementos diversos, tais como as castanholas, eram de qualidade e muito bem feitas. No entanto, nenhuma delas foi suficiente para tornar o show um grande diferencial do evento. Apesar disso, o público animou-se na balada Matilda, em Taro e no hit Breezeblocks.

Robert Plant, por sua vez, atraiu pessoas de todas as idades – desde crianças de oito anos até senhores de 55 anos ou mais. Confesso que não esperava muito do show dele, até porque acreditava que lhe faltaria o vigor dos tempos de Led Zepellin. No entanto, foi bem surpreendente e com uma qualidade sonora pra muita banda nova aprender.
Ao mesmo tempo em que os 66 anos do vocalista ficam evidentes em alguns momentos, como o fôlego entre um refrão e outro, a animação e empolgação que falta em muito jovem de 20 anos sobra nesse senhor de cabelos grisalhos – e, por sinal, bem bagunçados!
Alguns instrumentais demorados acabaram por esfriar um pouco o público no meio da apresentação. Mas nada que uma clássica Whole Lotta Love não compensasse no final.

O melhor show da noite de sábado – e, na minha opinião, do festival inteiro – foi o de Jack White. Sério: eu não consegui colocar defeito nenhum na banda dele. Toda a apresentação foi a prova viva de que seguir carreira solo foi sua melhor escolha. Mesmo tocando algumas músicas de suas antigas bandas – The White Stripes e The Raconteurs – a força que este Edward Mãos de Tesoura tem ao vivo é de outro mundo. Um verdadeiro show man!
Apesar da interação tímida para alguém com tanta força nos palcos, Jack enlouqueceu o público – que tinha as letras na ponta da língua. Apesar disso, algumas falhas técnicas impediram o resultado final impecável. O som começou baixo e o microfone sofreu com alguns efeitos barulhentos, que tornaram impossível distinguir o que o músico cantava em alguns momentos. Um erro vergonhosamente primário para um festival desse porte.
Steady As She Goes, We’re Gonna Be Friends, That Black Bat Licorice (maravilhosa!) e Seven Nation Army foram os melhores coros da noite. E é claro que o destaque seria a última, com um encerramento incrível de fogos artifícios e muita gente pulando. Jack White, o senhor é destruidor mesmo.

Domingo, comecei com o Interpol. A apresentação foi boa, apesar do som baixo. No entanto, a falta de interação dos músicos com o público esfriou bastante o ânimo do mesmo. Teria sido a chuva, talvez? Passando eles, segui com The Kooks – que foi surpreendentemente bom! E não falo isso como uma mera fã! Acredito que a potência da banda cativou até os namorados das gurias, que chegaram ao show com a cara emburrada (sorry, Three Days Grace!).
Mas no final, os moços acabaram se soltando com o indie dançante do grupo, que lotou a arena. Destaque para a quarta do setlist, a queridinha Bad Habit. A tão esperada Sway – que ninguém acreditava que iriam tocar – veio à tona e arrancou milhares de gritos, um belo coro e gestos engraçados da plateia. A simpatia do vocalista (olá, dancinhas!) e sua interação com público foram ótimas. Só poderiam ter usado o palco inteiro, não?

Segui para tentar ver um pouco do Foster The People. Mas foi uma tentativa frustrada e demorada pela quantidade absurda de gente. Difícil acreditar que só tinha 70 mil pessoas nesse dia. Por causa disso, e do som terrivelmente baixo, vi apenas duas músicas e segui para o show da Pitty, que segurou bem a plateia com hits de peso. Ai, gente, adoro ver moças no palco! Um grande e inaceitável problema técnico foi a falha de quase quarenta segundos de um dos microfones – fato que irritou a cantora, que fez gestos obscenos para os produtores no backstage.
Bastante emocionada com o coro que se formou (até eu fiquei chorosa quando ouvi tudo aquilo), ela abriu para a banda Young The Giant. Mas poderia muito bem ter sido o contrário.

Falando neles, tem um som gostoso e uma presença legal. Mas não consegui me prender muito ao show, mesmo conhecendo umas três ou quatro músicas. A plateia estava bem desanimada comparada ao show anterior. E ainda mais ao show seguinte.

Smashing Pumpkings foi o maior espetáculo do dia e o segundo maior do festival, mesmo com o começo desafinado e baixo do Billy (William?) Corgan. Os sucessos intercalados com as novas músicas da banda prenderam o público de uma forma inacreditável.
Um coro enorme para 1979, Bullet With Butterflies Wings, Disarm e, claro, Tonight, Tonight tornaram o momento inesquecível. A banda que não parava de sorrir e olhar maravilhada para a plateia, que se emocionou com Being Beige. Billy é surpreendentemente brincalhão em cima do palco, apesar da cara amarrada dar a impressão contrária.
Com isso tudo, e um fofo voto de parabéns ao organizador da porra toda, Perry Pharrell, os americanos encerraram bem o evento. Que venha 2016!
Mais informações: http://knifeassassin.blogspot.com