Ela falava em girassóis.
Desenhava e escrevia palavras que denotavam melancolia
Girassóis me deixam alegre, pensei
O que é contraditório
São minhas flores favoritas.
Me lembram minhas tardes na infância
Na minha casa no campo, debaixo de um dia ensolarado.
É curioso, pois meu quintal era cheio de azaleias arroxeadas
A flor do ciúmes, dizem os especialistas
Não penso em ciúmes quando olho azaleias
Penso em uma casa de madeira onde vivi melancolias e dias felizes
Acho que era o Sol naquele jardim que me lembrava girassóis
Flores por toda a parte
Pés descalços
Música na porta de casa.

Ela se perguntava se o poeta era mais triste que o palhaço.
Minha irmã tem medo de palhaços
Então sempre me vem à cabeça uma figura
Que, de certa forma, traz mais medo que risos.
Eu chorava ao ver palhaços quando criança
E minha irmã levou esse medo a outro patamar.
Acho comum ter medo de palhaços.
Não sei dizer ao certo porque crianças ás vezes são tão avessas a eles.
Não sei se é o nariz vermelho ou os trejeitos histéricos.
Já o poeta sempre me encantou.
Sempre me fascinou com palavras.
Mas a genialidade tem seu preço.
A beleza das palavras pode vir carregada de dor.
A dor do poeta é profunda.
Sentida em cada pedacinho do corpo.
Porque ninguém ama como o poeta.
É impossível falar de sentimentos
Sem senti-los cada um com essa intensidade.

Ela me disse que as palavras vieram no meio de um desenho.
Talvez ela própria esconda a dor de um poeta
Disse que quer se aproximar ainda mais de sua arte
Mas já a acho muito próxima.
Mesmo que em silêncio.