Ontem eu tive um pesadelo triste
Onde gritava sem ser ouvida
Onde fugia sem ser seguida
Temendo uma ameaça sem nome.
Não havia rosto, só uma sombra disforme
O despertar no susto, a respiração alterada
A tranquilidade de se descobrir acordada.
Mas e quando a angústia vem com olhos despertos?
Desconhece a tristeza, mas quer chorar
Desconhece o desespero, mas quer gritar
Clamar por um nome desconhecido
Alguém que talvez nunca venha.

Há uma cidade melancólica fora da janela
Um barulho que incomoda
Duas mãos vazias
E o rosto em lágrimas frias.
Há uma incerteza de tudo
Um pessimismo permanente
Um bolo enorme na garganta
O corpo contorcido em frente.
E quem nunca foi assaltado pela incompletude
Por uma dúvida insistente?
E quem nunca se questionou sobre o mundo
Sentindo-se desnudo?
Pois de qualquer forma, somos todos vulneráveis
Todos sujeitos à angústia do pesadelo
Dos lábios tristes calados
Sem um por quê por inteiro.