
O homem divagava. Sentado na mesa do bar, entre goles e mais goles de cerveja, mergulhava em pensamentos, afastava o mundo ao seu redor e se perdia.
“Quantas vezes tu sentes que não pertence a essa década?”, perguntava-se o homem em seus devaneios. Dentro daquele lugar, incomodava-lhe a música excessivamente alegre, as falsas amizades e os interesses que não despertavam sua atenção. Que graça havia em descobrir aquilo que já estava escancarado à sua frente? Que graça havia na ausência do mistério? É tudo tão superficial…
Ele sabia que, num piscar de olhos, poderia ter o que os outros queriam dele. Sua noite terminaria em um quarto, com muitas taças de champagne e uma maravilhosa ressaca. Mais ele queria ir mais além, algo que suprisse por completo sua tão longa solidão. E então, sentia-se vazio e extremamente exigente, culpando-se por tudo que ocorrera de ruim em sua vida.
Mais um gole de cerveja e sua esperança de encontrar o que estava procurando se dissipava. Aliás…
“O que estou procurando?”, questionou, sem encontrar uma resposta convincente dentro de si mesmo.
Um amigo se aproximou, apresentando-lhe uma bela mulher.
– Essa é uma amiga. Quero que vocês se conheçam.
Eles se encararam. Ele suspirou. A mulher sorriu tímida, talvez ela própria desconfortável e sem saber o que fazer. Àquela altura, ambos se sentiam pressionados.
– Vou dançar – ela disse. Como que para espantá-lo.
Levantou-se, sem esboçar um sorriso sequer. Foi para o meio da pista. Era curvilínea. Bela. Mas naquela altura, nenhum dos dois estava interessado. Que mania dos outros de empurrar pessoas para se conhecer! Trocaram um olhar cúmplice, entendendo-se.
O amigo coçou a cabeça. Desconfiava que o parceiro não gostava de mulher. Porque homem, pra ele, não deve negar fogo. Pensamento velho.
No entanto, quando tudo parecia tomar um rumo vazio naquela noite abafada e estrelada, ele encontrou o que procurava. Caminhando como uma bailarina sorridente, e ao mesmo tempo melancólica. Carregava no olhar os opostos: a inocência e a sensualidade, o mistério e a excessiva expressividade, a alegria e a raiva. Os cabelos escuros pendiam de lado em suaves ondas. Seus olhos cruzaram com os dele, e ele se deparou com um mar profundo, revoltado e imenso. Ela mordeu o lábio espontaneamente. Desviou o olhar tímida, fitando qualquer outra coisa que a libertasse daquela voracidade. E então sorriu para o nada. Secou as mãos repentinamente úmidas e nervosas no vestido, passou-as entre os cabelos longos e os afastou, revelando um ombro nu. Voltou seu olhar para trás onde o homem continuava a fitar-lhe, maravilhado. Tudo isso por causa da simplicidade de um ombro nu.
Ah, se todo mundo soubesse as maravilhas de um ombro nu…
adorei bé, adorei ! s2