U2 e a beleza indescritível da The Joshua Tree Tour 2017

Sucesso estrondoso de público e crítica, milhões de cópias vendidas no mundo inteiro e uma máquina de hits que sobreviveram no decorrer dos anos, transformando uma banda irlandesa em uma das maiores expoentes do rock no mundo. Isso parece muito pouco e raso para descrever o significado do álbum The Joshua Tree, um dos mais contemplados de toda a indústria musical. Lançado em 1987, o disco é frequentemente listado por grandes entendedores da arte musical como um dos álbuns obrigatórios a qualquer ouvinte que se preze – e foi, inclusive, listado no livro 1001 Discos Para Ouvir Antes de Morrer. 

Falar sobre o U2, de uma forma geral, é também apontar uma contradição que existe nesse tão confuso mercado fonográfico. Considerada uma das bandas mais populares do mundo, ela é, também, fortemente criticada por uma parte considerável do público roqueiro, que aponta questionamentos quanto à qualidade de suas músicas, põe em xeque o impulsionamento comercial aplicado em cada uma das faixas lançadas e pouco absorve das mega produções aplicadas nos palcos de suas turnês mundiais. Isso para não falar das críticas ferozes quanto ao engajamento político e social de seu líder e vocalista, Bono Vox – que realiza discursos em prol de iniciativas diversas e está à frente da ONG One. Em contrapartida, os irlandeses montam um dos grupos que mais esgotam ingressos de apresentações em tempo recorde, colecionam um público impressionante em seus shows e encantam os olhos de quem se aproxima de seus palcos para contemplar o que se tornou um dos espetáculos obrigatórios para a vida. Porque assistir a um show do U2 na Terra é uma experiência e tanto.

Telão reproduzindo imagens temáticas durante "Where The Streets Have No Name" | Crédito: Camila Honorato
Telão reproduzindo imagens temáticas durante “Where The Streets Have No Name” | Crédito: Camila Honorato

Passados trinta anos do lançamento do quinto e mais elogiado álbum de sua carreira, que gerou hits como Where The Streets Have No Name, I Still Haven’t Found What I’m Looking For, With Or Without You e Bullet In The Blue Sky, o U2 idealizou uma turnê comemorativa que passou por diversos países e terminou com louvor no Brasil, uma das terras que mais os contempla. Em passagem apoteótica pelo Estádio do Morumbi em São Paulo, o grupo realizou quatro apresentações competentes pela terra da garoa, sendo que três delas contou com todos os ingressos esgotados.

O formato da turnê abarcou não só as faixas inclusas no álbum que a intitulou, mas também clássicos que compuseram grandes discos como War, The Unforgettable Fire, Boy, All That You Can’t Leave Behind e How To Dismantle An Atomic Bomb. As apresentações incluíram a presença de um telão gigantesco e impressionante formado por mais de mil painéis com resolução de 8K, que deixa o nosso humilde full HD de 1080p no chinelo. No início do show, músicas que integram War e The Unforgettable Fire, como Sunday Bloody Sunday, New Year’s Day, Bad e Pride (In The Name Of Love), foram tocadas na penumbra graças à ausência do brilho do telão, o que conferiu um clima intimista de introdução e, por outro lado, dividiu opiniões. Em contrapartida, com a apresentação da quinta música do setlist, a própria Where The Streets Have No Name, que abre o álbum-título, os painéis passam a intercalar imagens da apresentação da banda em tempo real com a inserção de imagens e vídeos ilustrativos produzidos especialmente para as apresentações.

A "The Joshua Tree Tour 2017" foi uma das turnês mais competentes da história da banda | Crédito: Camila Honorato
A “The Joshua Tree Tour 2017” foi uma das turnês mais competentes da história da banda | Crédito: Camila Honorato

Durante os shows, a banda tocou a ordem exata das faixas de The Joshua Tree, enlouquecendo o público com os hits e tornando a reprodução de faixas como Trip Through Your Wires e One Three Hill em pontos altos da apresentação. Rolou homenagens simbólicas a David Bowie e a Chester Bennington, com um belo discurso de Bono sobre a importância de combater a depressão e o suicídio. Com o encerramento das apresentações do álbum, o grupo cedeu espaço a Daniel Lanois, o monstruoso produtor canadense que assinou não só o contemplado álbum da turnê, como também discos competentes de Bob Dylan, Peter Gabriel, entre outros. No show, o produtor dividiu o microfone com Bono durante a belíssima Mothers Of Disappeared, que encerra o álbum e a primeira parte do show.

A banda reunida e o baterista Larry Mullen Jr. no telão ao fundo | Crédito: Camila Honorato
A banda reunida e o baterista Larry Mullen Jr. no telão ao fundo | Crédito: Camila Honorato

No bis, a inserção de faixas como Beautiful Day, Elevation e Vertigo serviram para dar um gás a mais na plateia, que reproduziu um coro digno de lágrimas. Em Ultraviolet (Light My Way), a emocionante homenagem da banda às mulheres rendeu um discurso sobre igualdade de gêneros e a reprodução de figuras femininas de impacto ao redor do mundo e no decorrer da história, tais como a pintora Frida Kahlo, a ex-primeira-dama Michelle Obama e a nossa mítica Maria da Penha. Em seguida, One deu um clima de tranquilidade com as tradicionais luzes de isqueiros e celulares iluminando a escuridão da noite no estádio. No último show em São Paulo, os paulistanos ganharam um bônus com a inserção de I Will Follow no setlist.

Com tudo isso, é nítido que a turnê de The Joshua Tree, bem como as turnês míticas e anteriores da banda, tais como a de 360º, tornou-se uma das séries de apresentações mais belas já realizadas por uma banda na história da música, ainda mais em um cenário onde poucos grupos grandiosos de rock competem em superproduções ao vivo com popstars. E o entrosamento de Bono com Adam Clayton, The Edge (que continua fazendo uma das mais lindas segundas vozes do mundo) e Larry Mullen Jr. (que aos 56 anos, continua sendo um baita dum homão da porra e crush que você respeita) segue impecável.

A homenagem do U2 às mulheres foi um dos pontos altos e emocionantes do show | Crédito: Camila Honorato
A homenagem do U2 às mulheres foi um dos pontos altos e emocionantes do show | Crédito: Camila Honorato

SET LIST 

  1. Sunday Bloody Sunday
  2. New Year’s Day
  3. Bad
  4. Pride (In the Name of Love)
  5. The Joshua Tree
  6. Where the Streets Have No Name
  7. I Still Haven’t Found What I’m Looking For
  8. With or Without You
  9. Bullet the Blue Sky
  10. Running to Stand Still
  11. Red Hill Mining Town
  12. In God’s Country
  13. Trip Through Your Wires
  14. One Tree Hill
  15. Exit
  16. Mothers of the Disappeared

    Encore:

  17. Beautiful Day
  18. Elevation
  19. Vertigo

    Encore 2:

  20. You’re the Best Thing About Me
  21. Ultraviolet (Light My Way)
  22. One
  23. I Will Follow

AVALIAÇÃO FINAL: ♥♥♥♥♥ (Excelente).

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